Caminho Livre para a inclusão do Deficiente Visual
Cultura Inclusiva também se faz em um sarau
Publicado em 03/07/2011 por Alessandra Leles em Cultura Inclusiva com 8 comentários
No sábado passado dia 25 de junho de 2011, aconteceu na Biblioteca Pública de São Paulo que fica ao lado do metrô Carandiru, um sarau organizado por Irene "Poeta" de Barros (do Movimento Livre) e Geisa Souza Santos com a intermediação de Rui Antônio do Nascimento. As organizadoras idealizaram um evento com o intuito de proporcionar um momento de descontração e cultura para outros deficientes visuais, suas famílias, amigos e a todos que estavam circulando no espaço da Biblioteca.
Sabemos como o acesso à cultura em nosso país é um assunto controverso e quando pensamos em acesso cultural para os deficientes visuais, o tema torna-se ainda mais questionável. Como é a participação deste público nos produtos e acontecimentos culturais?
O sarau foi realizado em um espaço externo da biblioteca semelhante a um pequeno salão, próximo à entrada, aos armários, banheiros e bebedouros. Este local foi escolhido levando-se em consideração as necessidades e facilidade de acesso do público com deficiência visual.
Os funcionários da biblioteca prepararam o local, providenciando cadeiras, mesas, bancos, a decoração temática de festa junina e barraquinhas onde os participantes serviam-se de refrigerante e pipoca gratuitamente e à pedido das organizadoras, os recursos técnicos necessários.
Sarau? O quê será?
Eu como uma amante da música, das palavras e do contato com o outro não poderia ficar de fora desse sarau. Mas antes que eu conte minhas impressões sobre o evento, você sabe o que é e como surgiram os saraus?
Um sarau é um evento cultural ou musical onde as pessoas se encontram para se expressarem ou manifestarem-se artisticamente, ele pode envolver todas as artes: dança, poesia, leitura de livros, música, pintura e teatro. Evento bastante comum no século XIX que vem sendo redescoberto por seu caráter de inovação, descontração e satisfação. Consiste em uma reunião festiva que ocorre à tarde ou no início da noite, apresentando concertos musicais, serestas, cantos e apresentações solo ou em grupo, demonstrações, interpretações ou performances artísticas, literárias e também outras formas de expressões culturais.
Atualmente, os saraus apresentam-se com formatos os mais variados, porém mantendo o foco na expressão artística e de pensamento.
Organizado por...
Quando recebi o convite para participar desse sarau, me chamou muito a atenção o fato do mesmo não ter sido realizado, nem mesmo ter o conhecimento de Associações ou Instituições que dão apoio ao deficiente visual. Geiza, Irene e Rui se organizaram, correram atrás das pessoas que iriam cantar e tocar, se mobilizaram para conseguir o espaço na biblioteca. Enfim, fizeram todo o evento sem estar nas asas protetoras de uma organização maior.
Sempre ouço o pessoal do Movimento Livre dizendo que "Inclusão é uma via de mão dupla" e que "O deficiente visual tem que se impor e se expor!".
Sarau é um evento essencialmente cultural, que neste caso foi realizado em um espaço público de interesse à cultura e organizado por deficientes visuais sem a tutela de Instituições, tá aí um bom exemplo de Cultura Inclusiva.
Como foi o Sarau?
Irene "Poeta" além de ser "a mestre de cerimônias" surpreendeu e emocionou a todos com a sua naturalidade e intimidade com as palavras!
O poema que dera início ao sarau ganhou vida com sua voz doce lendo as melodias do texto escolhido. Espanto! Soube naquele instante que nos aguardava algo especial.
A informalidade deu o tom da leveza, da espontaneidade, da festa junina pois estávamos nos últimos dias de junho, o público aumentava e as horas avançavam.
Fotos de Nonalisa Lins, retiradas do blog da BSP.
Deficientes visuais e videntes, jovens, crianças e idosos, pipocas e refrigerante. As apresentações seguiam-se entre risadas, muito bate-papo e novas amizades.
Declamações de poema de autoria própria, músicas típicas de festa junina cantadas pelas crianças, Luciano com seu violão, um jogral com a Irene "Poeta" e seu irmão Marcelo Serafim finalizado com um longo abraço, as apresentações continuavam com a leitura de um poema pela Iolanda com o texto escrito em Braille acompanhada de seu irmão Zequinha, canto à capela por Geisa e a tarde chamava o pôr do sol enquanto as apresentações continuavam.
A proposta deste sarau não era a do requinte dos saraus filosóficos ou daqueles que propõem leituras dramáticas feitas por atores, comentaristas especialistas nos temas abordados, nem debates, mas a celebração da vitória: da superação diária de cada um para estar ali, dos organizadores: a recompensa de passar noites em claro preparando algo tão especial que levara um mês para estar pronto e de repente, ter de repensar e refazer tudo!
Quantas vezes a vida faz isso conosco, não é?
Mas o importante é desafiar-se e comemorar vivendo cada momento da vida, de preferência regada à amigos e à arte!
Aproveite e dê uma olhada nesses artigos também:
- A visão de um cego na visão de um vidente
- A audiodescrição como motor de inclusão cultural
- Você conhece algum desses espaços culturais de São Paulo?
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8 Comentários
Irene "Poeta" disse em:03/07/2011 - 12:11:05 |
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Olá, pessoal! |
Marly Solanowski disse em:04/07/2011 - 17:36:12 |
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Alessandra gostei! Seu artigo me pareceu muito bom e claro sem perder a sensibilidade em um contexto que todo sarau envolve. Mais bacana ainda é que ele oportuniza o aparecimento de potencialidades visto que pela narrativa transformou-se num sarau de novos talentos. |
Ricardo De Melo disse em:05/07/2011 - 08:40:08 |
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Olá Alessandra e amigos do ML. Gostei muito do texto, porém não pude ir ao sarau, mas, como disse a Marly, a Alessandra conseguiu passar um pouco da emoção do evento em seu artigo. |
Fábio disse em:06/07/2011 - 17:40:54 |
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Foi muito bom neste dia vi a união das pessoas com deficiência visual fazendo o que devemos de fazer no papel da inclusão. |
Angelo Zampar disse em:08/07/2011 - 19:52:05 |
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Parabéns às organizadoras do evento, uma linda iniciativa que promove inclusão e proporciona momentos de beleza e cultura. |
William disse em:11/07/2011 - 08:30:41 |
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Eu sou suspeito em elogiar ações como esta de organizar um evento cultural por pessoas com deficiência para pessoas com e sem deficiência. Acho que ao longo dos tempos nós ficamos muito dependentes de instituições que definissem o que podíamos ou não fazer.Mas sinto que aos poucos esta dependência está diminuindo e só com ações como esta que a Irene, a Jeisa e o Rui fizeram que dá ânimo de tocar projetos como o do Movimento Livre e outros semelhantes que promovam verdadeiramente as pessoas com deficiência e sobretudo sermos protagonistas da nossa história. Parabéns a Alessandra por emprestar suas retinas para enxergarmos belíssimos momentos e emocionantes. |
Irene "Poeta" disse em:18/07/2011 - 13:21:49 |
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Olá, pessoal!!!! |
Marines disse em:19/07/2011 - 08:20:09 |
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Adorei!!A união e o empenho de todos do movimento muito me emociona!!E como sempre nossa amiga Irene é mesmo um Poeta""!!! Fico feliz de encontrar pessoas que tenho uma admiração mais que especial!!Eu fico na torcida de que as pessoas se liberte dessa hipocrisia maligna e enxergue de verdade o Bem maior o Amor!! Bj á todos |
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